Portal da Cidade Mogi Mirim

ENTREVISTA

CNB: “Vou deixar a cidade muito melhor do que encontrei, mas muito melhor”

O prefeito falou ainda sobre reeleição: “se ela (Flávia) não for candidata, eu tenho uma tendência a aceitar que seja eu o candidato”

Publicado em 08/09/2019 às 05:25
Atualizado em

Foram apenas 35 minutos de conversa. É pouco para as perguntas que poderiam ainda ser feitas. Ainda mais para Carlos Nelson Bueno, prefeito de Mogi Mirim pela terceira vez, prefeito pela quinta vez em sua história, levando-se em conta os dois mandatos que cumpriu em Mogi Guaçu, de 1973 a 1976 e de 1983 a 1988. 

Comedido em alguns pontos, dá a entender que ficará em segundo plano se considerar que Flávia Rossi tenha melhores condições de emplacar sua candidatura. Mas, como se sabe, tudo isso faz parte de uma estratégia de Carlos Nelson para não se expor (mais).

Carlos Nelson deve ser candidato à reeleição. É natural que seja.

Numa entrevista em que analisou muito mais o cenário atual dentro da Prefeitura, falou claramente que deixará a cidade melhor da que ele assumiu em 2017, na sucessão de Gustavo Stupp.

Leia a entrevista que foi feita antes da saída de Danilo Zinetti da Secretaria de Governo e antes de tornar pública a ação movida pelo prefeito contra o vereador Tiago Costa:

* * * * *

Pergunta: Olha para o retrovisor, de quando o senhor se tornou prefeito pela primeira vez, em 1973, eram outros tempos, Mogi Guaçu era uma cidade muito menor do que é hoje. Hoje o senhor é prefeito pela quinta vez, a terceira vez em Mogi Mirim, enfrenta problemas distintos se comparados aos do primeiro mandato em Mogi Mirim. Como avalia toda essa transição na vida política, às vésperas de uma eleição onde o senhor pode tentar concorrer ao seu sexto mandato? 

Resposta: Do ponto de vista prático, do dia a dia de governo, hoje é extremamente difícil lidar com as pessoas. Vamos analisar esse problema no aspecto pessoal. Existe um descrédito muito generalizado dos funcionários públicos, estou falando do funcionalismo municipal, em função da conduta do político. A má vontade, a repulsa às vezes que se observa, é fruto evidentemente das mazelas que o Brasil viveu nesses últimos anos, nesses 15, 20 anos, de regimes de esquerda, irresponsáveis, sem nenhuma preocupação com a ética, com a lisura dos negócios.

Então, hoje ao você comandar uma prefeitura, a primeiro desafio é ter um quadro de secretários que falem a sua língua e que sejam leais. Que encontrem justificativa para se esforçar e produzir mais. Eu posso dizer que pelo meu tempo do exercício do mandato, já tive situações muito melhores, sem diminuir ou desprestigiar meus secretários. Hoje, a realidade desse mundo, tenho secretários muito bons, mas na origem no meu primeiro mandato de prefeito, tive alguns secretários que superaram todas as expectativas. Funcionários efetivos que ainda foram contratados no regime de ausência de concurso público.

Tive um secretário de administração que acompanhou na minha vida política até a morte, que foi o José Rodrigues Neto. Tive um secretário como Áureo Galhardoni, que foi meu secretário da Fazenda e fizemos um governo excepcional. Pessoas que nunca saíram de Mogi Guaçu, mas que “casavam” com a Prefeitura. Eram pessoas que se precisassem trabalhar sem cargo de secretário, certamente fariam a mesma coisa. Tive um secretário de Negócio Jurídicos como o Benedito Macário de Mattos, e depois o genro dele, o Gastão Delafina de Oliveira, que eram advogados de primeira linha, que discutiam questões nos Tribunais de Justiça, defendia voto em Tribunais no pais afora. Esses profissionais estavam à disposição.

Hoje, você, em primeiro lugar, não tem uma política salarial. Eu por exemplo, meu salário de prefeito se equivale a uma aposentadoria hoje. E eu tenho que nivelar o salário dos secretários abaixo do meu. Porque nenhum secretário pode ganhar mais do que eu ganho. Eu tenho um grupo de secretários que são mal remunerados pelo nível de serviço realizado. E isso se aplica muito aos funcionários públicos não aposentados que tem limitação de vencimento, às vezes cumprindo uma rotina de trabalho que em uma multinacional certamente receberiam três, quatro vezes mais.

Fica difícil lidar com essa situação. Até pouco tempo atrás tive dentro da Prefeitura uma massa de funcionários que recebiam biênio, quinquênio e sexta parte, e uma outra que não tinha direito a esses benefícios. Reduzi o benefício fora de época que remunera dessa forma, mas senti resistência do sindicato, de alguns secretários e acabei por estender que o benefício, que é fora de época, para os funcionários que não tinham esse direito, para que dentro do meu governo eu possa tratar as coisas de forma homogênea, porque, como pode tratar uma empresa, uma organização seja lá qual for, com políticas salariais totalmente distintas uma da outra? Na verdade, o esforço de governar hoje é muito maior, o risco é muito maior. Porque você está subordinado ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas que são implacáveis. E se há um momento que a Justiça é implacável, é na base. Você não vê hoje na base das pequenas cidades, nos governos municipais, não se vê escândalo. Aparece, esporadicamente, um aqui e outro lá, mas é por um período curto, depois desaparece. Mas, o rigor com que o Tribunal de Contas e o Ministério Público acompanham o desempenho de um prefeito é às vezes assustador. Mesmo porque esses organismos estão crescendo, renovando com mão de obra especializada e esse pessoal que está chegando agora são terríveis, porque têm conhecimento teórico muito grande, mas não tem a prática. O Tribunal de Contas, de certa forma, às vezes chega a legislar. Aplica decisões que foram tomadas após as iniciativas do prefeito. E fica muito difícil trabalhar desse jeito.

Eu fui vítima disso e tenho cautela enorme. Saio da Prefeitura exausto, porque qualquer documento não muito comum que tenha que assinar, eu tenho que dar um tempo, ler, deixar para o dia seguinte, ler de novo, ver outros pontos, quer dizer, fica muito exaustivo o exercício do poder. Eu tenho tido muita sorte porque tenho reunido um grupo de secretários realmente que querem o bem para a cidade e querem ajudar e sentem que o esforço só do prefeito não resolve nada. Nesse aspecto, tem uma grande diferença.

Quando fui prefeito de Mogi Guaçu nos meus dois mandatos, eu tinha praticamente uma cidade na mão. Era mais leve, era mais fácil conversar com a população. Eu tomava medidas às vezes usadas e que eram aceitas naturalmente pela população. Hoje a população está sofrida, é muito exigente e às vezes até no benefício que ela recebe, ela contesta.

* * * * *

O orçamento do Município é totalmente engessado quando se vê que é praticamente usado para custeio ao longo do ano, cumprindo as exigências com folha salarial e da Lei de Responsabilidade Fiscal. Por isso, para garantir investimentos em obras, foi preciso buscar recursos através de financiamentos. O senhor acredita que toda essa engenharia para garantir esses recursos pode ser considerada a maior obra deste mandato? 

Primeiro que há algumas coincidências. Não exista outro caminho. Quando tomei posse, não tive alternativa nenhuma. Tive que fazer o que eu fiz. Quer dizer, estabelecer um padrão de conduta para os secretários e passei a governar com lupa. Só se gastou em dois anos aquilo que era rigorosamente possível gastar. Só faltou eu apagar as luzes da cidade. Fui muito rigoroso e tinha que ser, e por incrível que pareça, esse rigor não afetou a minha relação com a população. Afetou a relação com alguns empresários, principalmente na área de urbanização e de loteamentos, porque ocorreram abusos muito grandes. Fui obrigado a anular processos registrados em Cartório por falhas em processo de aprovação, por desrespeito das regras legais. Então, foram dois anos em que eu cuidei de finanças, de legalidade, não só de processo de loteamento, mas do conjunto enorme de medidas que tive que tomar. Chegou-se ao cúmulo de ser avisado no início da gestão que a gestão anterior havia feito uma confissão de vida à concessionária de serviços público (de esgotos, ao se referir à Sesamm) de R$ 9 milhões. Pedi o processo e pedi para suspender o pagamento e pedi a judicialização do processo. Eram coisas desses tipos, e isso estou citando só um exemplo. Haviam questões semelhantes que aconteceram. Não tinha muito o que fazer, a não ser rigoroso, economizar, cortar despesas, evitar desperdício e eficiência. Com a crise da economia no país, a insegurança do prefeito é muito grande, porque num período curto, você precisa restaurar o equilíbrio das finanças, e você acaba ficando com um colchão de recursos financeiros que já te dão certa tranquilidade, mas, de repente, não sabe se terá uma arrecadação que sustenta esse quadro. Então, passei um período com excesso de recursos, o que de certa forma aumentou a capacidade de obtenção de crédito da Prefeitura. Quando a Prefeitura passou a ser analisada pela capacidade de pagamento e de tomar empréstimo, ela foi excepcionalmente considerada com liquidez assegurada, com garantia de restituição do empréstimo. Isso aconteceu num momento que a Caixa tinha muito dinheiro para investir e não tinha tomador porque os tomadores estavam com baixa credibilidade e baixa capacidade de pagamento. A Caixa viu Mogi Mirim como cidade fora da curva. Começou a ter oferta de recursos, além do que havia.

Contratamos um financiamento no início do governo para ampliação do serviço de água, da terceira adutora e ampliação do sistema de tratamento. Tivemos um financiamento para recuperação do Parque das Laranjeira e o Murayama, com situação distinta, porque o Laranjeiras vem sofrendo nesses últimos 40 anos sem nenhuma possibilidade do poder público investir ali. Recebemos R$ 22 milhões, depois tivemos o financiamento do FINISA, de R$ 5 milhões e depois de R$ 2 milhões, e agora tivemos agora dois financiamentos que totalizam R$ 26 milhões.

Considerando o dinheiro que recebi do Governo do Estado, mais os financiamentos, não tive carência de recursos para investimentos. Mas, veja: não são recursos para custeio. Daí, vem a insegurança de uma gestão porque não sabe até que ponto tem dinheiro para pagar salário de funcionários. Isso nos obrigou a fazer essa engenharia legal para reduzir despesa. Mas, a situação desse período de governo foi atípica. E não acho que possa prolongar isso. À medida em que passa o tempo, volta a cair na rotina de ter que ficar vendo receita de IPTU, ITBI, IPVA, ICMS, ISSQN, fundo de participação do município, que todos são dependentes do ritmo da economia do pais.

* * * * *

Tudo isso é cautela ou insegurança? 

Insegurança também. Eu tenho uma certa preocupação com o Brasil para os próximos meses.

* * * * *

Qual é o temor? 

Se a economia do país não decolar, teremos um péssimo final de ano e podemos ter problemas nos dois anos seguintes. 2020, pelo o que a gente lê nos comentários dos grandes analistas de economia, o ano está praticamente perdido. 2020, se o Brasil crescer 1,5%, é muito. A expectativa é que o governo acorde, imprima o mínimo de competência nas negociações com o Congresso e tome de fato medidas para avançar, de ganhar tempo, porque tempo é o grande adversário da economia do país. Perder dois anos é péssimo para crescer.

* * * * *

Como espera finalizar seu mandato em 2020? 

Tenho condições de entregar as obras, as mais recentes, como de recapeamento e pavimentação, recuperação de 6 UBSs, construção de três UBS, reforma da UPA que eu havia conseguido esse dinheiro com a Dilma (Rousseff), em governos anteriores, então acho que essas obras eu consiga terminar. Espero ter em 2020 100% do serviço de água renovado, a Prefeitura toda mergulhada na tecnologia para melhor atender a população nessas próximas décadas.

* * * * *

Está satisfeito com o resultado? 

Vou deixar a cidade muito melhor do que encontrei, mas muito melhor. Por incrível que pareça, não foi fruto da arrecadação, foi fruto dos financiamentos que a economia que eu fiz permitiu que eu fizesse. A credibilidade da Prefeitura de Mogi Mirim é muito grande, tanto que recebi inúmeras ofertas de recursos dos bancos oficiais.

Mas, eu entendo que herdei coisas positivas. Não é porque o prefeito anterior aprontou um monte de bobagens, pois eu recebi o fundo de iluminação pública intocável. Depois que foi municipalizada a gestão do sistema de iluminação, Mogi Mirim praticamente não investiu. Esqueceram esse recurso no fundo. Hoje estou fazendo política de substituição da iluminação tradicional por LED. E enquanto tiver esse recurso, eu farei essa troca. Mais de 50% da população vai se beneficiar, que é uma iluminação mais barata, muito mais eficiente, que dá segurança efetiva e sensação de segurança. A cidade fica mais alegre. É uma cidade que tem um pólo gastronômico consolidado. E que recebe nos finais de semana, principalmente à noite, uma quantidade de cidadãos de cidades vizinhos. Isso vai contribuir para o crescimento da cidade.

Vou levar muito pavimento para a periferia, muito recape, mas nesse aspecto a cidade ainda ficará carente, porque Mogi Mirim tem muito bairro clandestino, ilegal, até na divisa com Mogi Guaçu. São problemas que vão demandar um bom tempo para serem solucionados. A experiência mostra que loteamento clandestino acaba não tendo financiadores, porque os que patrocinaram não foram capazes de amealhar recursos.

* * * * *

O senhor não conseguiu viabilizar a aprovação da Câmara para obter crédito para construir um novo hospital. Hoje a gestão da Santa Casa é feita pela Prefeitura, mas sabemos que é por um período transitório. 

(interrompe) Sobre o hospital (Santa Casa), tenho R$ 4 milhões para assinar de suplementação para a sua utilização. A grande verdade é que herdamos o hospital sem estarmos preparados para isso. E o hospital estava em fase de desmanche. Tivemos que trocar luminária, lâmpada, melhorar sistema elétrico, sala de cirurgia, UTI, tivemos que fazer investimento para deixar o hospital utilizável. Antes, a Santa Casa recebia recursos e fazia 10% do que nós fazemos hoje. Só para você ter ideia, teve dois meses no início desse ano, o hospital não fez nenhuma cirurgia eletiva. E se não me falhe a memória isso ocorreu em fevereiro. Não fez nenhuma cirurgia eletiva, quando nossa expectativa era variável de 120 cirurgias por mês, isso se repetindo todos os meses no ano. A fila de espera para ser atendido nas cirurgias eletivas chegou a 1.300, a expectativa é fechar em 31 de agosto com 270 a 300 cirurgias realizadas apenas em agosto. É o pico que conseguimos por colocar a máquina para funcionar. Só que isso está custando mais dinheiro do que gastava antes com a Santa Casa. Hoje gasta-se mais do que se gastava antes, porque a necessidade é maior, para reduzir uma fila de espera das cirurgias e para manter o serviço à altura. A fila da cirurgia eletiva se acumulou ao longo dos conflitos com a Santa Casa.

A Santa Casa recebe hoje o que não recebia antes, mas antes também não se fez nada e por isso estamos tendo que gastar mais hoje para colocar a casa em ordem. Hoje está ficando mais caro, mas a gente vê o hospital reabilitado. Produz mais do que pode produzir.

Hoje o hospital está funcionando muito bem. Evidentemente que podem ter falhas, a Flavia (Rossi) está aprendendo, estudando gestão hospitalar, mas é uma pessoa dedicada, apaixonada pelo sérvio público, apaixonada por Mogi Mirim. Tive sorte de ter alguém como a Flávia. É por isso que a coisa está andando.

Essa situação me permitiu a oportunidade de gerir a cidade com oferta maior de serviço de saúde, coisa que não tinha antes.

* * * * *

O senhor tem tido mais vitórias na Câmara. Está satisfeito com o relacionamento? 

Eu estou satisfeito com a minha relação com a Câmara. Nunca tive e nem tenho de ter unanimidade, que isso não existe, mas a conduta da maioria tem sido eticamente agradável. Recebo, dos 17 vereadores, às vezes 14 ou 15. Tem dois vereadores que são refratários a entrar no gabinete. Tenho tido 11 vereadores favoráveis. Isso é muito bom. Não vejo muito problema da minha relação. Tenho que agradecer aos ex-presidentes, agora ao (Manoel) Palomino, até mesmo a própria a Maria Helena (Scudeler de Barros), que foi líder no segundo ano de mandato. Ajudou muito a Prefeitura, mas infelizmente... (pausa) não tenho culpa, porque não trabalhei para ela para presidente da Câmara. Aliás, não trabalhei para ninguém. Nunca pedi voto para presidente da Câmara, não trabalhei para o Palomino também. Eu sei que a credibilidade do político é baixa, mas sinto muito, vou falar o que tenho na mente.

Tenho procurado fazer um governo que, em alguns momentos, eu até exagero, porque não estou olhando apenas a legalidade, mas para a ética. Nunca fui tão rigoroso comigo mesmo.

* * * * *

Direto na última pergunta: o senhor vai tentar a reeleição? 

Continuo insistindo que seja a Flávia seja a candidata. É a pessoa mais habilitada para governar, é jovem, tem um dinamismo, está no máximo de sua criatividade, dedicação, tem experiência em quase todos os setores da Prefeitura, de várias prefeituras, então, acho que seria a pessoa correta. Seria a minha candidata. Se ela não for candidata, eu tenho uma tendência a aceitar que seja eu o candidato. Mas, se a Flávia, aí na frente, resolver ser candidata, eu absolutamente abriria mão para ela.


Fonte:

Deixe seu comentário