Em meio às ruas do bairro Jardim Maria Bonati Bordignon, em Mogi Mirim, uma tradição secular ganha vida todos os anos durante a Semana Santa. Aos 63 anos, Ivonete Aparecida Baptista, dona de casa, tornou-se uma guardiã dessa prática ancestral: a malhação de Judas.
Há seis anos, Ivonete começou a confeccionar seu próprio boneco de Judas, seguindo a tradição transmitida por gerações. Utilizando roupas doadas por amigos e familiares, ela dá forma ao boneco e o enche com o devido material, preparando-o para o ritual simbólico que se aproxima.
A malhação de Judas é uma prática enraizada na cultura popular, ligada aos ritos da Páscoa cristã. Em diversas partes do mundo, comunidades se unem para confeccionar, pendurar e queimar bonecos em alusão a Judas Iscariotes, o traidor de Jesus Cristo.
No Brasil, essa tradição tem suas raízes na época colonial, trazida por influência da península ibérica. Entre a madrugada da Sexta-feira Santa e a manhã de Sábado de Aleluia, os bonecos de Judas são pendurados em postes e queimados em um ato simbólico de expurgar o mal.
Para Ivonete, manter viva essa tradição é uma forma de conectar-se com suas raízes e compartilhar valores culturais com a comunidade. "É uma tradição antiga, acredito que a geração atual nem saiba direito o que é", reflete Ivonete. "Quando eu era criança, nós víamos muito essa tradição, e crescemos com isso, assim como muitas outras tradições e brincadeiras."
Apesar de não ser tão praticada pelas gerações mais jovens, a malhação de Judas ainda ressoa, especialmente entre aqueles que, como Ivonete, valorizam as tradições e buscam preservar a identidade cultural da região.
"É uma forma de manter vivas nossas histórias e ensinamentos", destaca Ivonete. "A maioria das pessoas que vêm malhar o Judas são crianças, e elas, por fazerem catequese, já sabem o significado dessa tradição."
Enquanto prepara seu boneco para mais um ano de celebração, Ivonete reitera o valor de manter vivas as tradições que moldaram sua infância e continuam a inspirar as futuras gerações.