Portal da Cidade Mogi Mirim

A crise continua

UTI neonatal fechada completa 2 meses e é um desafio para a Prefeitura

Câmara cobra soluções urgentes para que os bebês sejam atendidos na Santa Casa de Mogi Mirim

Publicado em 22/12/2023 às 10:00
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(Foto: Cláudio Felício/Portal da Cidade Mogi Mirim)

O final do ano chegou e a Prefeitura de Mogi Mirim ainda não conseguiu resolver um dos mais graves problemas que surgiu há dois meses na área da saúde pública hospitalar, com o fechamento da UTI neonatal na Santa Casa, que continua sem data para reativar o atendimento. 

Considerada como referência na região, a unidade está sem médicos, e de acordo com informações da Secretaria Municipal de Saúde, existem dificuldades na "contratação de intensivistas especializados". 

Desde o final de outubro, a unidade parou de funcionar já que os médicos plantonistas decidiram não trabalhar mais. À época, a justificativa para o abandono dos plantões, segundo o INCS (Instituto Nacional de Ciências da Saúde), que faz a gestão da Santa Casa, foi ocasionada após atrasos pontuais no pagamento de alguns profissionais, motivados por bloqueios judiciais nas contas da Irmandade da Santa de Misericórdia de Mogi Mirim.

A vereadora Joelma Franco foi a primeira a levantar o problema da interrupção do atendimento na UTI neonatal. "Recebemos a denúncia que os médicos haviam parado o atendimento em virtude da falta de pagamento e fomos apurar. É inadmissível que a mãe com os seus filhos fiquem à espera de vagas em outros hospitais, alguns deles em outras regiões, sendo que temos aqui em Mogi Mirim uma unidade referência que a atual gestão do hospital deixou parar", disse à época.

Joelma teceu críticas à gestão terceirizada da Santa Casa ao INCS (Instituto Nacional de Ciências em Saúde), que é investigado por contratos firmado em outros municípios. E não deixou de fora das críticas o prefeito Paulo Silva por confiar ao Instituto a gestão administrativa e financeira da Santa Casa ao INCS.

A vereadora Lúcia Tenório, que é médica ginecologista e obstetra, usou na tribuna da Câmara na semana passada, na última sessão legislativa do ano, para cobrar soluções urgentes por parte do Poder Executivo.

Ela disse que acompanha de perto a crise no setor hospitalar, até porque como profissional da área há mais de 30 anos, tem enfrentado o problema da falta de atendimento.

"A UTI neonatal precisa voltar a funcionar. Vidas estão em jogo. Eu já disse isso ao prefeito (Paulo Silva) e à secretária (de Saúde, Clara Carvalho). Falei em discurso na tribuna. Fiz o que pude, indiquei colegas para preencher a escala e a última informação que tive, há uma semana, era que faltava apenas um médico para a reabertura. Mas a demora é grande", salientou a vereadora.

Desde o final de novembro, a Prefeitura voltou a ser interventora dos serviços SUS na Santa Casa, em virtude de o INCS ser investigado pela Polícia Federal por problemas financeiros registrados em Sorocaba e em outros municípios.

A Secretaria de Saúde de Mogi Mirim, por meio do interventor, o chefe de gabinete, Mauro Nunes, informou que busca reativar a unidade o mais breve possível e afirma que, por enquanto, não foram registrados prejuízos a nenhum paciente.

"Todos que necessitaram de uma UTI neonatal foram e continuam sendo inseridos no sistema Cross (Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde) sendo, imediatamente, transferidos para unidade de referência dentro do Estado de São Paulo onde hajam vagas, como Campinas, Mogi Guaçu, Ribeirão Preto, etc", destacou em nota à reportagem.

Ainda, segundo nota, desde o fechamento da UTI até o dia 10 de novembro, nove crianças precisaram ser encaminhadas para outras cidades. Neste caso, o setor de transporte da Secretaria de Saúde também providenciou ambulâncias para as transferências. 

AÇÃO JUDICIAL

Segundo a Prefeitura, há uma ação na Justiça, solicitando a retomada imediata desses plantões e a decisão judicial foi concedida, parcialmente, determinando que os médicos reestabeleçam os plantões ou, caso pretendam, rescindam o contrato e que respeitem o prazo de 30 dias de aviso prévio. Assim sendo, uma nova escala está sendo elaborada para que o atendimento na UTI Neonatal seja retomado no mais curto espaço de tempo.

Para Lúcia Tenório, a postura do Poder Público, de tentar resolver o problema na Justiça, pode ter atrapalhado na reativação da neonatal.

"Eu reconheço os esforços da Prefeitura, os investimentos feitos pelo INCS enquanto era o responsável, mas a ação que a Administração Municipal moveu contra os médicos que deixaram de atender na Santa Casa por atraso nos pagamentos gerou um problema ainda maior, porque outros colegas médicos estão com receio de assumir a escala na UTI Neo e também serem processados", informou.

Na opinião da vereadora, Mogi Mirim não pode continuar sem o atendimento, correr o risco de perder a referência neste tipo de serviço hospitalar e talvez paralisar outros setores.

"Corremos o risco de ter outras especialidades paralisadas, como a maternidade, porque os colegas não se sentem seguros em atuar sem a UTI Neo como suporte", destacou a médica/vereadora.

Em nota, a Prefeitura disse que o fechamento de qualquer serviço é prejudicial, não só ao hospital, mas, principalmente, para quem faz uso dos serviços oferecidos e destacou: "a Santa Casa é o único hospital SUS do Município e só por isso, tem um peso muito grande no sistema de Saúde, mas dentro em breve, com a reabertura dessa unidade, o hospital voltará a ser referência regional', finalizou.

Além do problema no atraso de pagamentos, a reportagem do Portal da Cidade Mogi Mirim apurou que a tabela apresentada pela Santa Casa, referentes aos pagamentos, fica aquém da expectativa de alguns profissionais, e causa desinteresse em trabalhar para a cidade. Salários pagos por hospitais particulares e também da rede pública de outras cidades da região, acabam atraindo os intensivistas, deixando Mogi Mirim sem médicos.

"O prefeito tem sensibilidade como médico para perceber que, às vezes, é necessário colocar rivalidades e rusgas de lado para um bem maior. Esse bem, no momento, é a reabertura da UTI Neo. E com urgência", citou Lúcia Tenório.

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